Eu tenho um defeito.
Sim, quem não tem defeitos?!
Meu defeito se chama sentir.
Eu sinto demais, sinto muito. E isso me prejudica bastante, porque meus outros
defeitos, são todos derivados de sentir alguma coisa.
Eu sinto amor, eu sinto
raiva, eu sinto dor, eu sinto saudade, eu sinto...
Quando me pego melancólica em
meio a minhas indignações, sinto vontade de mudar o mundo, e depois essa
vontade some, e sinto vontade de esconder-me de todo mundo.
Meu defeito maior, sentir.
Sinto que devo levantar todos os dias com o intuito de me tornar uma pessoa
melhor, e fazer com que aquele dia, seja melhor que ontem. Sinto-me envolvida
pelo entusiamo de ser alguém melhor, e saio pela porta. Ao passar por ela e me
deparar com o que encontro lá fora, sinto que não deveria ter saído. Sinto que
tudo que eu preservo, conservo, planto, e floresce, é levemente destruído por
pessoas que não sentem, não sentem amor próprio, não sentem respeito alheio,
não sentem a si mesmas.
Sentir, o que é sentir?
Sentir pode ser verbo
transitivo direto, que vem de quem sente uma sensação, que percebe as coisas
através dos sentidos.
Sentir pode ser verbo
intransitivo, que vem da capacidade de percepção, de consciência, de
sensibilidade seja física ou moral.
Eu posso escrever aqui, os
muitos significados que este verbo tem, mas como todo verbo, ele designa uma
ação, e nem todos nascem com o dom de agir.
Todo sujeito é livre para
conjugar o verbo que quiser, todo verbo é livre para ser direto ou indireto,
nenhum predicado será prejudicado nem tampouco a vírgula, nem a crase, nem a
frase e ponto final! Afinal a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre
vírgulas, e estar entre vírgulas pode ser aposto. E eu aposto o oposto que vou
cativar a todos sendo apenas um sujeito simples, um sujeito e sua oração, sua
pressa e sua prece. Eu nasci, e eu sinto.
Semeio metáforas por falta de
outros adjetivos que expressem o que eu sinto, sinto demais, sinto muito.
No último semestre, eu senti
muito, senti além do que acreditei que poderia sentir. Senti felicidade, senti
amor, senti ódio, senti maldade, senti desaconchego, e senti o acalento, senti
a maldade de cada um atingindo a mais profunda víscera do meu corpo, me senti
arrastada, arrasada. Senti a vida voltando a estaca zero, senti que deveria
desistir, senti saudade, e senti que por essa saudade eu deveria continuar.
Saudade, ato ou sensação de sentir falta de algo ou alguém. Saudade de mim, o
que fui, o que sou, o posso ser. Sentir é um defeito devastador, ele corrói meu
intimo e me faz sentir vontade de tudo e de nada.
Acredito, que para quem
sente, crescer é uma consequência. Cresci nos últimos seis meses, mais do e
muitos anos de minha vida. Não contei aqui tudo que se passou, para bom leitor,
uma virgula é palavra. Senti muito mais do que achei ser a minha capacidade.
Quem me olhou diariamente, não imaginou o que se passava por dentro, sentir
está aliado a outros defeitos, como a omissão.
Mas omitir é a conversa para
outro momento. Hoje o momento e sobre apenas sentir. Eu sinto.
Eu sinto demais. Eu sinto
muito, eu sinto amor.
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